quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Trabalho corporal para cena






























"Pontapés, socos, saltos, correrias e malabarismos." 
Qual a necessidade do trabalho corporal para atores?De todas as carreiras, o ator sabe que a sua profissão é a que mais exige  preparação corporal e mental para ocupar a cena. É necessário esforço, dedicação, força de vontade e disciplina para enriquecer não só o intelecto, mas educar o corpo para ampliar e melhorar sua expressividade corporal, vocal  e capacidade de comunicação. Para o ator, comunicação não significa apenas saber usar a voz e saber falar para o público. Tem a ver com energia, gestualidade e expressão física e emocional.

Para tirar o maior proveito de seu corpo, que é o seu “principal instrumento de trabalho”, o ator tem procurado os mais diferentes meios e técnicas para preparar seu corpo e voz para a arte da representação. Aulas de canto, yoga, pilates, exercícios ginásticos e respiratórios, balé, bandoneon, música, contato-improvisação, dança. São práticas artísticas benéficas que melhoram não só sua capacidade respiratória, sua postura corporal, seu tônus muscular, como sensibilizam e preparam seu corpo para a ação cênica.

A maioria das escolas de teatro tem em seu programa curricular a disciplina  “expressão corporal”. A finalidade desta disciplina, não é só revelar ao aluno, aspirante a ator o que ele não conhece de seu corpo, mas fazê-lo aprender a reeducar seus movimentos, sua postura, sua flexibilidade e sensibilidade para assim alcançar sua própria consciência corporal e equilíbrio para a atuação.

Confesso que ao começar a ter aulas de expressão corporal na escola de teatro, me pareceu estranho e doloroso todo o esforço físico, vocal, muscular e respiratório que a disciplina exigia. Faziamos muitos exercícios físicos desgastantes em sala, como correr alopradamente de um lado para outro, congelar, saltar, pular, dar cambalhotas, parar, gritar, reagir a estímulos exteriores e lidar com objetos materiais que nos eram oferecidos. Com o tempo comecei a perceber a importância destas aulas de corpo e passei a usufruir de seus benefícios.

Aprendi com esta disciplina a respirar melhor. E ter uma postura mais adequada ao meu trabalho como atriz. Aprendi a me concentrar em cena. No que faço e como faço.Passei a me sentir mais atenta ao espaço que meu personagem ocupa no espaço da trama  a ser encenada.Consequentemente meu repertório de movimentos se enriqueceu com este preparo físico. Minha capacidade de audição e visualização se fortaleceram sensivelmente. Não consigo subir ao palco e ficar indiferente ao que está acontecendo nele. Ao menor ruído, gestos e estímulos do ambiente meu corpo reage de imediato e sensivelmente. Com o “corpo treinado e preparado” estou mais predisposta a estabelecer e manter vínculos com tudo o que descubro nos ensaios e com os meus colegas envolvidos no jogo da representação.

Enfim, descobri que não é suficiente trabalhar com o intelecto e o conhecimento, se você não tem um corpo estimulado e sensibilizado para exteriorizar o emocional do seu personagem.  Em cena o ator precisa ser despudorado e visceral para criar um ser de carne e ossos dotado de atitude, interioridade e personalidade. 

Portanto, no seu cotidiano o ator precisa manter seu corpo em treinamento constante. Buscar uma técnica corporal, um exercício (de respiração, relaxamento, concentração, memória, um jogo teatral) para manter seu corpo organicamente sensível, estimulado e motivado em energia para a interpretação.

Eu comecei meu preparo corporal na dança.  Na década de noventa, quando comecei a frequentar aulas de flamenco.  Tinha consciência de que “a dança podia ser uma disciplina complementar para a formação e preparação corporal de uma aspirante a atriz para a cena”.  Sempre gostei de me expressar com o corpo e trabalhar com música e mímica. Sabia que a dança também revela uma teatralidade no movimento, no gesto, na expressão corporal do bailarino.

Estudar dança significava para mim a possibilidade de expandir minha expressão corporal para o teatro, enriquecer minha expressão gestual para atuar por meio do trabalho de postura, coordenação, flexibilidade, fluidez. Então, mergulhei de cabeça nas possibilidades que a dança flamenca me oferecia, para me preparar de corpo e alma para o teatro e para a profissão de atriz.







terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Sala de ensaios e criação











O projeto Sala de Ensaios  (iniciado em 2001) é um projeto contínuo que nunca é interrompido, mas continuado e aperfeiçoado a cada ano com novos conteúdos, que vão sendo absorvidos e desenvolvidos de acordo com as necessidades de cada projeto artístico. É uma proposta curricular de qualificação técnica e profissional que envolveu práticas de técnicas teatrais e de dança flamenca.

O projeto Sala de Ensaios foi uma iniciativa voluntariosa e apaixonada de um grupo de estudos de dança e teatro  com o objetivo de reaprender por autodidatismo e esforço próprio a dançar flamenco.No Brasil, a didática tradicional da cópia e da repetição prevalece nas escolas de dança. Só se aprende em sala o que o professor faz. A repetição é a base do treinamento.

Com o projeto “Sala de Ensaios”, sozinhas e com muito esforço e trabalhos práticos em sala de aula, crescemos e evoluímos para novos desafios e possibilidades como, dominando a parte técnica deste estilo de dança, pensar na possibilidade de formar um grupo/cia de baile e montar nossos espetáculos.O projeto resultou positivo, porque nos obrigou a ir mais longe,a confrontar e corrigir nossas fraquezas técnicas e a melhorar nossos pontos fortes.Para buscar o aprofundamento no baile flamenco que almejávamos, foram muito utilizados recursos audiovisuais importados. Demos preferência aos cursos didáticos feitos por professores e bailarinos espanhóis com ampla experiência no ensino desta dança.

É um projeto que realizo até hoje. Fundamental para minha preparação corporal como atriz.